A vida é repleta de momentos, vivências, experiências, aventuras e partilhas. Ao longo desta, cruzamo-nos com inúmeras pessoas que nos vão deixando um pouco de si. No entanto, algumas apenas têm uma breve passagem na nossa vida e outras decidem simplesmente ficar.
Em 2009, por um simples acaso, tive a sorte de que a vida académica te fizesse minha afilhada, longe de saber que esse facto te faria, com o tempo, a minha melhor amiga!
A cidade Invicta materializou muitos dos teus sonhos de estudante e considero que vivemos tudo o que a vida académica nos proporcionou – praxes, tradições académicas, jantares, saídas, cafés, noites mal dormidas, horas de estudo, passeios pela baixa, partilha de casa, conversas infindáveis, segredos, desabafos.
Por força da vida, mais tarde, deixamos de viver na mesma cidade e aí percebemos que a nossa amizade estaria longe de se limitar a uma zona geográfica. De malas feitas perdi a conta aos dias de verão passados na Guarda e das aventuras vividas nessa cidade.
Acabamos depois por marcar uma outra cidade no nosso percurso – a cidade dos moliceiros, dos ovos-moles- Aveiro acolheu-te inicialmente e quis o destino que mais tarde me acolhesse a mim também. Aqui, vivemos mais um sem número de aventuras, de peripécias, de histórias. Crescemos de mãos dadas, caminhamos lado a lado e, vivemos fervorosamente, todas as conquistas e vitórias que iam demarcando o nosso percurso. Aveiro fez-nos crescer.
Fez, de igual forma, com que novos objetivos se impusessem e com estes, deixássemos de dividir a mesma cidade. Hoje sei que aqui deixámos que o tempo passasse e se impusesse com a distância. Demos espaço ao silêncio, aos compromissos inadiáveis, à mania parva de adiar um telefonema.
Em Abril de 2016, num domingo como tantos outros, fui assolada por um telefonema com a notícia da tua doença e senti como se tivesse acabado de levar um murro no estômago. Tentei lembrar-me da última vez que te tinha abraçado e percebi aí que teríamos deixado os compromissos inadiáveis tomar conta dos últimos meses. Decidi naquele momento que iria no dia seguinte a Coimbra– a cidade onde agora estarias a morar e onde eu ainda não te tinha ido visitar- no dia em que iria determinar o início da tua/ nossa longa caminhada.
O choque da notícia deixou-me um misto de sensações, entre o racional e o emocional, colocando-me uma série de interrogações sobre a vida. Percebi que às vezes nos permitimos absorver pela rotina quotidiana de uma forma tal que o que realmente valorizamos passa para um segundo plano – prometi a mim mesma que nunca mais voltaria a cometer esse erro.
Reencontrar-te naquela sala de espera não teria sido o que alguma vez teria idealizado para a próxima vez que nos veríamos, mas aquele abraço reafirmou com toda a certeza todo o amor que sempre prevaleceu entre nós. Com todas as emoções à flor da pele, entre lágrimas e gargalhadas, tive naquele dia a certeza, que irias/iríamos ultrapassar este obstáculo de forma triunfante.
Continuavas igual a ti própria, a tua energia, o teu sorriso, tu – com o teu casaco de pelo, o teu pequeno tacão, o teu batom- mesmo quando o “teu mundo” tinha acabado de te pregar uma rasteira. E se dúvidas existiam, naquele dia, tive a certeza de que ainda tinhas muito para mostrar à vida!
Os tratamentos iniciaram-se e os meses foram passando. Entre viagens a Coimbra, horas a fio ao telemóvel, mensagens diárias e conversas intermináveis, o tempo foi correndo. A tua determinação, perseverança e força foram imperativos ao longo de todo este processo. A distância de kms que separavam o Porto de Coimbra faziam com que nem sempre pudesse estar contigo o número de vezes que desejaria. A isto aliava-se a tua vontade em relação às visitas ao hospital. Já era Verão, quando te fui visitar a Coimbra, após uns dos primeiros tratamentos.
Falávamos todos os dias, mas ainda não teria estado contigo desde que tinhas ficado sem os teus longos cabelos. Sempre admirei a tua coragem e afirmação. Ambas sabíamos do teu empenho e cuidado com a imagem, das horas que demoravas a arranjar-te (mesmo que fosse para um café sem importância ou ao supermercado) e como tal, há coisas que nunca mudam – tu, igual a ti própria, mais uma vez e, a ensinares-me que aceitar a realidade é a forma mais simples de agarrar a vida, de a viver!
Sempre aprendi muito contigo e ao longo dos últimos meses ainda mais. Sinto-me uma privilegiada por isso. Admiti-te recentemente que tive receios e medos, por tudo o que uma doença oncológica envolve.
Mas percebi que não há doença, que seja forte o suficiente, se nós próprios nos mantivermos firmes e acreditarmos em nós, na nossa força e fé. Percebi também do papel imprescindível de quem nos rodeia, do suporte que são as pessoas que nos querem bem e de como esses são selecionados naturalmente.
Pensei que já valorizava os pequeninos momentos da vida, mas contigo aprendi que o melhor dela está no calor de um abraço, no respeitar o silêncio de um momento e no amor, na sua versão mais pura e simples. Entendi, no seu todo, o significado da palavra amizade, do companheirismo e união…afinal, para sermos felizes, precisamos de tão pouco!
O Linfoma apareceu sem pedir licença, mudou a tua vida, mas deixou também uma grande lição, para ti e para todos os que te acompanham.
Obrigada por seres esse Ser incrível e dividires o teu sorriso e coragem com todos os que têm a sorte de partilhar a vida contigo, pois é sem dúvida um privilégio!
Amo-te ❤
Mónica Pires
Uiii vocês emocionam-me!
Gostei do “Aveiro fez-nos crescer”… A vida é assim cheia de encontros e desencontros.
Gosto dos encontros, gosto de vocês, da vossa amizade incondicional.
Sejam felizes!
Beijo até á Lua
GostarLiked by 1 person