Quando te vi pela primeira vez desisti. Tinha três anos e uma bicicleta a estrear. Subi para o selim, pedalei com quatro rodinhas, mas não consegui equilibrar-me nas duas. O coração acelerava, imaginava as quedas e o caminho contigo era perigoso. Um dia, tudo isto passaria só que a criança cresceria e a bicicleta seria só tua…
Nunca me esqueci do tempo que já passei contigo. Obrigaste-me a inventar dores de barriga, trabalhos de casa e até deixei de ir a uns piqueniques românticos, na adolescência. Não porque não quisesse, mas porque tinha vergonha de admitir que a minha bicicleta tinha 4 rodinhas. Para além disso, forçaste sorrisos e acenos de cabeça aquando alguém decidia motivar-me com “isto é como andar de bicicleta, nunca se esquece.” E agora o que é que eu faço?
Ontem foi dia de Psicoterapia. As terças já são dias especiais, horas marcadas para falar de ti, do teu aparecimento e da nossa relação inseparável. Sei e sinto que deixámos de olhar em frente com segurança, que o equilíbrio depende de mais de quatro rodinhas e que a nossa relação não pode ser alvo de vergonha, de silêncio ou de pressão psicológica.
Um dia, tu voltarás a ser inofensivo, a bicicleta uma piada saudável e eu andarei para a frente com a cabeça na lua e os pés assentes na terra. Porque tu continuarás sempre de mãos dadas com a vida, querido Medo!