“- Veio para engravidar?”
Primeiro a questão habitual. Depois um assustado não. Em seguida, a consulta. Sem demora, a ecografia. E para terminar, o estudo hormonal. Ufa… só que não.
15 dias?! Quinze dias, o período inquietante para descobrir se conjugo ou não o in antes do f.
Ontem lá fomos ao Centro de Preservação da Fertilidade . Como já vos tinha dito –aqui -o tratamento do linfoma, mais concretamente a quimioterapia, pode causar infertilidade. Posto isto, congelei os meus 19 ovócitos, antes de iniciar o tratamento, assegurando a minha sucessão.
A idade avança. A sociedade pressiona. A história repete-se:
- Apaga a vela.
- Concluí os estudos.
- Arranja um trabalho.
- Coloca o anel de ouro no dedo.
- E engravida.
Ainda assim, a questão da gravidez suscita uma cuidada análise:
- Engravidas “bem antes da idade certa”. Pois bem, toda a gente já sabia que o desfecho seria esse. Já na primária eras curiosa por aquilo que está no meio das pernas dos rapazinhos;
- Engravidas “acidentalmente”. As escolhas são o casamento ou o aborto. Se optas por ter o filho sozinha serás candidata a má-companhia e/ou encalhada lá do sítio;
- Engravidas “durante os preparativos do casamento”. Confessa lá que andavas com medo de ficar pendurada no altar;
- Engravidas “na lua-de-mel”. De certeza, que não foi bem lá;
- Engravidas “meses após o casamento” e o teu marido é rico. És esperta. Tens que garantir o futuro, não vá ele mudar de ideias;
- Engravidas no “tal momento certo”. Eleger-vos-ão a família-exemplo.
E se fores casada e nunca mais parires? Então vamos lá ver:
Hipótese 1: Casada, trabalha e tem bom corpo.
Não engravida, ninguém troca curvas por estrias.
Hipótese 2: Casada e com um excelente emprego.
Não engravida, está à espera que a vaga para chefia abra e, acima de tudo, não vai deixar uma carreira promissora em prol de um puto.
Hipótese 3: Casada, excelente emprego, bom corpo e a chegar aos 40.
Não engravida, já é velha.
Na minha modesta opinião, as hipóteses poderão ter resposta inesperadas. Poderá ser só uma opção. Ou, poderemos estar a falar só de casos de infertilidade. Sim, eles existem e ninguém tem que andar a dizer se é ou deixa de ser infértil.
Garanto-vos, que as cadeiras do centro estão sempre cheias de amor, de esperança e de cansaço. Garanto-vos, também, que as pessoas tem um aspecto normal, um sonho adiado e que o problema afecta homens e mulheres. E, acreditem que ali a outra metade faz ainda mais sentido, de mãos dadas!
Há meio ano que espero pela marcação da consulta. Há meio ano que enumero os factos positivos e negativos. Há meio ano que sei que a vida muda com as conclusões dos médicos. Mas, também é há mais de meio ano que vivo com a certeza de que não há impossíveis.
Até dia 3!