Um presente inesperado, embrulhado em sentimentos, adornado pela vida e colado com a morte. Nesse instante, a curiosidade e o medo unem-se e rapidamente a prenda é descoberta: uma caixa. Levanto a tampa da caixa; o coração palpita aceleradamente; as lágrimas caem bruscamente e o Burkitt espalha-se tanto pela minha vida como pelo meu corpo.
Quando abrimos a caixa, esta não traz livro de instruções, não consente ser fechada e não permite a devolução. Somos obrigados a ver, a sentir e a desvendar todo o seu interior e cada um terá que viver ou sobreviver com a sua!
A primeira sensação que descobri foi a DOR. Encontrei-a quando retirei o ovo e de seguida, voltámo-nos a cruzar num outro tipo de dor, para a qual não existe nenhum analgésico ou classificação: a dor da notícia. Esta tortura a continuidade, intensifica o desespero e persiste na lembrança do local, da hora e do sentimento!
A segunda sensação que destapei foi o SOFRIMENTO. Esbarrei nele com o barulho da máquina de rapar percebendo a necessidade de aceitar a doença, de continuar a ver no espelho a força do acreditar e de aprender a conviver com o linfoma e com as questões insistentes ou os comentários arrebatadores. E, entendi que falar da doença apazigua esta sensação!
A terceira sensação que enfrentei foi a LUTA. Tropecei nela quando desafiei a grandeza do linfoma, quando reuni todas as minhas armas e segui para quimioterapia e quando reparei que existia um exército imenso neste combate. Aos poucos, ganhei as batalhas, cerca de 10, e preparei-me para disputar a guerra final, daqui a cerca de 6 semanas: a PET final. Quero hastear a bandeira de Vitória e relembrar a bravura, a coragem e o empenho em cada vestígio que permanece e permanecerá!
Cheguei ao fundo da caixa e encontrei a última sensação a ESPERANÇA. Embati nela quando confiei no amanhã, quando me entreguei à minha médica e a toda a equipa da hematologia e quando acreditei na possibilidade de cura. Fui posta à prova, duvidei inúmeras vezes se aguentaria, quis desistir de mim e do tratamento mas no final, aprendi que independentemente do teor ou do tamanho da prova tudo se resume a uma oportunidade de nos conhecermos e de agarrarmos a vida!
Tapei a caixa e, estranhamente ela voltou a abrir-se. Apalpei o seu interior, sorri e o presente espalhou-se com a sensação de MUDANÇA. Observei a minha imagem física e olhei para a interior. Senti a mudança em tudo o que me rodeia, em mim e no que ainda terei para destapar. Sei que chegou o momento de ser eu a preencher a caixa com sensações. Aquelas que sinto em tudo e em nada, mas que as sinto porque estou VIVA!
A vida mudou-te!
Tu aquele ser sensível, doce a superar a ironia, das pessoas da vida.
Lutadora, guerreira, lutaste e mudaste em cada etapa ajustando o sorriso às amarguras.
Deixaste para traz uma outra Gaby, renasceste forte, sempre linda.
Lindo o teu interior!
Que lição de vida transmites minha querida.
Ficou aquela promessa, lembras-te?
Vou aplaudir-te de pé.💝🌸
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