A mente focada, a vontade excessiva, a respiração ofegante, o olhar compenetrado, o sentimento desmedido, o de preso ao em agarrados ao por. O senso comum tende a descredibilizar tais sintomas, no entanto, estaremos perante um comportamento irracional, uma fase que passará ou um modo de vida?
A primeira memória fixa-se no ano de 1995 revelando a ingenuidade da idade e da circunstância. Lembro, exatamente, o cheiro da sala; os olhares colados e a dúvida instaurada. Lágrimas ou gritos era o expectável, mas foi uma pequena frase que apareceu:– não é azul.
A desilusão do momento, a recordação permanente, a emoção perturbadora e a destruição do acreditar propiciaram um ritual doloroso e torturante para espetar uma agulha no meu braço.
Enclausurei-me em especialistas, recorri a livros, pesquisei na internet, deitei memórias foras, não voltei a determinados lugares e até fiz terapia. Mas, nada nem ninguém me ajudou a esquecê-la.
A superação estava amarrada no destino e um dia soltá-la-ia: na hora em que o ritual fosse uma rotina!
A hemoglobina, as plaquetas e os leucócitos-mais concretamente os neutrófilos- desvendaram a guerra, o perigo, o desejo, a inquietação e, o mais importante o vermelho. Três palavras fixas na corda bamba do meu quotidiano.
Dedico-lhes toda a minha atenção, assumem-se como uma força e uma fraqueza, deixo-as controlar a minha vida na plenitude, ofereço-lhes os melhores cuidados e, elas teimam em não me responder com os resultados expectáveis.
O garrote a apertar, a mão a fechar, a veia a descobrir, a agulha a picar e o algodão a terminar o ritual despertando, de novo, a obsessão. Desencadeada de dor presa em incertezas agarrada por medo e segura no destino. E este, a seu tempo soltá-la-á!